Ulla von Brandenburg, Singspiel, 2009, Collection frac île-de-france
Ulla von Brandenburg, Singspiel, 2009, Collection frac île-de-france

Jardim de Esculturas

Entrada Livre

FUSO 2015

ANUAL DE VÍDEO ARTE INTERNACIONAL DE LISBOA

2015-08-27
Curadoria: Xavier Franceschi - Isabel Alves

Os jardins e os claustros dos Museus de Lisboa serão mais uma vez, o palco da celebração da vídeo arte na nossa cidade.

A par de uma selecção realizada a partir do open call FUSO, com uma programação distinta que divulga a vídeo arte portuguesa, apresentaremos obras, confrontando linguagens já históricas às mais contemporâneas, que cruzam o vídeo, a performance e o cinema, selecionados e apresentados por curadores internacionais que desenharam este programa exclusivamente para o FUSO.

Juntado artistas, curadores, um elevado número de público geral, especialista e responsáveis de grandes coleções de vídeo arte e instituições artísticas nacionais envolvidas nessa prática contemporânea, veremos obras da América do Norte e do Sul, Europa e Médio Oriente. Ernesto de Sousa, criador nos anos 70 do primeiro evento de vídeo arte em Portugal, será o artista homenageado no nosso país. A carta branca aos artistas nacionais será  este ano assumida por Miguel Palma.  

Jardim do Museu Nacional de Arte Contemporânea - Museu do Chiado

27 de Agosto 2015

22h00 | Programa Xavier Franceschi (FR)

VERTIGO

Obras da coleção do FRAC (Fundo Regional de Arte Contemporânea) Île-de-France

Duração: 1h06’

Vertigo reúne um grupo de obras que provêm, na sua totalidade, da colecção do Frac da Île-de-France. De várias maneiras, em meio a contrastes muito intensos, o espectador mergulhará sucessivamente no divertimento, no deslumbramento, na dúvida ou no pavor.

Quer se trate da visita – muito acompanhada – a uma vivenda modernista (Ulla von Brandenburg), de jogos conceptuais simultaneamente simples e radicais (Pierre Bismuth), da visão de uma casa habitada por fantasmas (Alejandro Cesarco), de um retrato cujas tonalidades depressivas também revelam uma grande humanidade (Margaret Salmon) ou de um encontro que se transforma em pesadelo (Karen Cytter), os artistas propõem, com grande diversidade, experiências vertiginosas que não deixarão o espectador ileso…

Programa:

_PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (Jaws), 2001, 5’58’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – Jaws, 2001, Collection frac île-de-france © Pierre Bismuth

Se existe uma constante na obra de Pierre Bismuth, é de certo a maneira como o artista integra de várias formas o cinema no seu trabalho. “Respect the Dead” – respeitar os mortos – significa que é preciso atingir o silêncio e cessar toda a actividade durante algum tempo.

Pierre Bismuth aplica esta regra elementar de filosofia de vida a um conjunto de filmes entre os mais célebres na história do cinema, filmes que têm em comum o facto de que uma morte surge de repente – por vezes mesmo no próprio genérico – na narrativa. Daqui resulta algo sem lógica: quando a morte acontece, o filme é cortado e o genérico do filme é acrescentado.

Com Pierre Bismuth, que nos oferece de passagem a possibilidade de rever genéricos em todo o seu esplendor – para muitos verdadeiras obras-primas, os mortos podem, finalmente, viver em paz.

 

_ ULLA VONBRANDENBURG (DE) //  Singspiel, 2009, 14’45’’

Ulla vonBrandenburg, Singspiel, 2009, Collection frac île-de-france © Ulla vonBrandenburg

Através dos seus filmes, desenhos, pinturas, esculturas e performances, Ulla VonBrandenburg produz uma obra singular fundada sobre as questões de representação e de ilusão, invocando com profunda lógica o universo do teatro, do cinema e da literatura.

“Comédia musical minimalista” segundo os próprios termos da artista, este filme de 16mm, sonoro, a preto e branco, consiste num longo plano sequência rodado em travelling nos espaços vazios da Villa Savoye (Vila Sabóia). Acompanhando esta errância na arquitectura modernista de Le Corbusier, a câmara cruza um certo número de personagens cuja atitude evidencia em todos os aspectos um profundo mal-estar. Uma mulher não consegue abrir uma porta, um jovem tenta desatar um molho de fitas, um homem – doente? Morto? – jaz por terra.

A uma arquitectura modernista, pura e radical, opõem-se o sofrimento e o tumulto da vida, quer nos sejam ou não explicitamente revelados. Em paralelo, pode vislumbrar-se aí, com plena justiça, uma evocação do destino da Villa Savoye e dos seus primeiros ocupantes…

_ PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (Dirty Harry), 2001, 2’27’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – Dirty Harry, 2001, Collection frac île-de-france © Pierre Bismuth

_ ALEJANDRO CESARCO (UY) // The Two Stories, 2009, 6’20’’

Alejandro Cesarco, The Two Stories, 2009, Collection frac île-de-france © droits reserves

Na obra de Alejandro Cesarco, uma certa literatura – o nouveau roman, Roland Barthes – um certo cinema – o de Marguerite Duras – ocupam um lugar de primordial importância.

É, sem dúvida, precisamente a Marguerite Duras que Alejandro Cesarco se refere com The Two Stories, retomando uma narrativa de Felisberto Hernández, escritor e músico uruguaio do séc. XX, fundador do “fabulismo literário hispano-americano”.

De facto, o filme reveste-se explicitamente de uma forma – totalmente feita de lentidão, de concentração e de expectativa – desde sempre o traço distintivo da romancista/cineasta. O filme assenta essencialmente num anterior momento radical: uma câmara filma a preto e branco um espaço interior vazio mas que anteriormente tinha sido o local de um certo acontecimento como nos é relatado em voz off. A câmara segue em diferido os movimentos anteriores do olhar do autor/ leitor neste espaço, a partir de agora, vazio.

Deste modo e muito paradoxalmente, é pela ausência dos diferentes protagonistas, relegados para a condição de fantasmas, que Alejandro Cesarco nos faz reviver com intensidade, um evento que – parece - acontecer.

_ PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (Vertigo), 2003, 4’49’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – Vertigo, 2003, Collection frac île-de-france © Pierre Bismuth

_ PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (A bout de souffle), 2001, 5’20’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – A bout de souffle, 2001, Collection frac île-de-france © Pierre Bismuth

_ KEREN CYTTER (ISR) // Four Seasons, 2009, 12’


Keren Cytter, Four Seasons, 2009, Collection frac île-de-france © Keren Cytter

Em Four Seasons uma jovem, Lucy, introduz-se no apartamento de um homem com quem se encontra na casa de banho, queixando-se do barulho. Rapidamente surge um grave tumulto causado pela confusão entre esta personagem feminina e uma certa Stella que teria sido vítima de um crime violento perpetrado pelo homem. A repetição de um disco, a neve que cai na sala, um bolo e uma árvore de natal que se incendeiam pela acção do olhar… diversos fenómenos estranhos balizam o desenrolar de Four Seasons. Estes elementos irrompem num ambiente familiar e doméstico provocando um efeito de incongruência, de falta de lógica que tocam o fantástico, fazendo lembrar o universo de David Lynch.

Entre cinema-verdade e sitcom, home movie e telerrealidade, performance filmada e cinema de autor, Keren Cytter dá-nos uma sucessão de cenas onde o real parece constantemente disputá-lo à ficção.

_ PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (Dr No), 2003, 4’07’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – Dr No, 2003, Collection frac île-de-france © PierreBismuth

_ MARGARET SALMON (EUA) // PS, 2010, 8’13’’

Margaret Salmon, PS, 2002, Collection frac île-de-france © Margaret Salmon

Os filmes de Margaret Salmon podem ser classificados como retratos inscritos numa tradição documental iniciada nos anos 1920, retratos que comportam uma dimensão de arquétipos e de universalidade.

Do mesmo modo, é para o domínio da ficção que são atirados os “não atores” que ela escolheu. Em PS, um homem idoso está no centro de uma disputa conjugal. A violência é transmitida pelos diálogos repetitivos, pelas discussões sem saída. Esta relação doentia exprime-se repetidamente através de gestos compulsivos da mão do homem na terra – planos “rurais” que fazem lembrar a América da depressão. No entanto, artifícios fotogénicos, tais como um espectáculo pirotécnico ou um plano através de um pára-brisas cheio de gotas de água deslocam o filme, levam-no para outra dimensão, uma dimensão lírica.

Com Salmon, a procura da reprodução cinematográfica de uma realidade complexa é conduzida por dispositivos e figuras que rompem - ainda que fugazmente – com o naturalismo evidente do trabalho.

_ PIERRE BISMUTH (FR) // Respect The Dead (Goodfellas), 2001, 2’37’’

Pierre Bismuth, Respect The Dead – Goodfellas, 2001, Collection frac île-de-france © Pierre Bismuth


_PIERRE BISMUTH (FR)

A viver em Bruxelas, o trabalho do artista francês Pierre Bismuth joga com modos de perceção através da interrupção de códigos de leitura recebidos aparentemente inócuos e autoevidentes, de imagens e objetos do quotidiano como notícias, filmes e ambientes construídos.

O trabalho de Bismuth foi apresentado na Christine König Galerie (Viena), Team Gallery (Nova Iorque), Jan Mot (Bruxelas), Mary Boone Gallery (Nova Iorque), Cosmic Galerie (Paris), Gallery Erna Hacey (Bruxelas), the Villa Arson (Nice) and Lisson Gallery (Londres). Em 2005 ganhou o prémio para o melhor guião original da 77ª Academy Awards juntamente com Michel Gondry e Charlie Kaufman para o filme Eternal Sunshine of the Spotless Mind.

_ ULLA VONBRANDENBURG (DE)

Ulla von Brandenburg trabalha uma série diversificada de medias para criar narrativas complexas, de múltiplas camadas que investigam os limites que existem entre realidade e artifício. Trabalhando com filme, desenho, instalação, e performance von Brandenburg envolve-se com formas culturais populares de múltiplas épocas como o meio para explorar a experiência coletiva contemporânea. Ao trabalhar com tradições aparentemente arcaicas como a tableau vivant, von Brandenburg apropria-se de material de origem histórica e transforma-o no presente para revelar tacitamente as regras que governam a nossa realidade social.

Permeada por temas e imagens provenientes da literatura, teatro expressionista, primórdios do cinema, e psicanálise Freudiana, a atividade de von Brandenburg cruza referências entre media criando uma linguagem que faz um loop em si mesma: interminavelmente repetida e em constante desenvolvimento.

Preocupada com “as fronteiras das diferentes consciências: passado e presente, vivo ou morto, real ou ilusório”, von Brandenburg cria um trabalho incertamente posicionado no ponto em que a realidade termina e a ilusão da vida, emoções e eventos começam.

Ulla von  Brandenburg nasceu em 1974 em Karlsruhe, Alemanha. Recentes exposições individuais incluem Secession (2013), Kunsthaus Hamburg (2013); Mirror Song, Pilar Corrias, London (2012); The Common Guild, Glasgow (2011); Chisenhale Gallery, London (2009); Irish Museum of Modern Art, Dublin (2008); Stedilijk Museum, Amsterdam (2008); Wattis Institute for Contemporary Art, San Francisco (2008); Kunstverein, Düsseldorf (2007); Art:Concept, Paris (2007); Produzentengalerie Hamburg (2007); Palais de Tokyo, Paris (2006); and Kunsthalle Zürich (2006). Recentes exposições colectivas incluem: 19th Biennale of Sydney: You Imagine What You Desire, Sydney (2014); The Crime was Almost Perfect, Witte de With, Rotterdam (2014); Film as Sculpture, WIELS, Brussels (2013); 1966-79, Institut d’art contemporain, Villeurbanne (2013); Tools for Conviviality, The Power Plant, Toronto (2012); Intense Proximite, Palais de Tokyo (2012); Secret Societies. To Know, To Dare, To Will, To Keep Silence, CAPC Bordeaux (2011); Un Espressione Geografica, Fondazione Sandretto Re Rebaudengo, Turin (2011); Biennale de Lyon, Lyon (2011); TABLEAUX Principe d’Incertitude, Magasin Centre National d’Art Contemporain de Grenoble (2011);Yokohama Triennale (2008); Biennale Jerusalem 2008; Performa 07, Performa, New York (2007); The World as a Stage, Tate Modern, London (2007), and Against Time, Bonniers Konsthall, Stockholm (2007).

Ulla von Brandenburg vive e trabalha em Paris.

_ ALEJANDRO CESARCO (UY)

Nasceu em 1975 em Montevideo, vive e trabalha em Nova Iorque.

O trabalho de Alejandro Cesarco é influenciado pela literatura e pela teoria literária, e pelas frágeis relações que existem entre imagética, linguagem e significado. Para além da sua atividade em estúdio, o artista nascido no Uruguai curou várias exposições e dirige a Art Resources Transfer (A.R.T.), uma organização sem fins lucrativos fundada em 1987 para documentar conversas entre artistas.

_ KEREN CYTTER (ISR)

Keren Cytter nasceu em 1977 em Tel Aviv, Israel, onde estudou artes visuais no Avni Institute of Art. Depois de várias exposições bem sucedidas em Israel, Keren Cytter ganhou uma bolsa do De Ateliers e mudou-se para Amesterdão. Actualmente vive e trabalha em Berlim. Os vídeos da Keren Cytter foram exibidos em exposições individuais como; Frankfurter Kunstverein e Kunsthalle Zurich ambas em 2005, I was the good was the bad and the ugly, Kunst-Werke Berlin em 2006, The Victim, MUMOK Vienna em 2007, Witte de With, Roterdão em 2008 e no Le Plateau Paris em 2009, Kunsthaus Basell e Moderna Museet, Estocolmo em 2010. As mais recentes exposições colectivas incluem: Making Worlds curado por Daniel Birnbaum na Biennial de Veneza 2009. Em 2006, Keren Cytter ganhou o Baloise Art Statement Award da Art Basel e em 2009 foi nomeada para o prestigioso prémio Preis der Nationalgalerie für junge Kunst em Berlim.

_ MARGARET SALMON (EUA)

Nasceu a 1975 em Suffern, Nova Iorque, Margaret Salmon vive e trabalha em Glasgow, Escócia. Salmon cria retratos fílmicos que tecem poesia e etnografia. Focando-se em indivíduos nos seus habitats quotidianos, os seus filmes capturam as minúcias da vida quotidiana e infundem-nas com uma gentil grandeza, tocando em temas humanos universais. Adaptando técnicas desenhadas pelos vários movimentos cinematográficos, como o Cinema Vérité, a Avant Garde Europeia e o Neorrealismo Italiano, as orquestrações de som e imagem de Salmon introduzem um lirismo formal na tradição do cinema realista. Margaret Salmon ganhou o primeiro Max Mara Art Prize for Women em 2006. O seu trabalho foi mostrado na Biennale de Veneza em 2007 e na Biennale de Berlim em 2010 e foi apresentado em exposições individuais na Witte de With em Roterdão e Whitechapel Gallery em Londres entre outros.



23h15 | Programa Isabel Soares Alves (PT)

ECOS DE ENCONTROS SOLARES

Duração: 30’

A escolha pretende homenagear dois artistas contemporâneos, Phill Niblock e Ernesto de Sousa.

Phill Niblock, tem um percurso artístico com mais de meio século de actividade como cineasta, fotógrafo e compositor. É director da Experimental Intermedia Foundation desde 1985, e a sua relação com Portugal  partiu de um contacto próximo que estabeleceu com Ernesto de Sousa a partir do final da década de 1970.  A apresentação de “Ultimatum”, deste último, na Experimental Intermedia Foundation, em 1983,  esteve na génese da “Bolsa de Arte Experimental Intermédia – Bolsa Ernesto de Sousa”.

Assim, desde 1992 até 2013, durante 20 edições, sob a orientação de Niblock, foram beneficiários da Bolsa, que tinha lugar em Nova Iorque, criativos como Rafael Toral, Manuel Mota, Margarida Garcia, João Paulo Feliciano, David Maranha, Adriana Sá ou André Gonçalves, entre outros.

Entre as suas múltiplas áreas de actividade Phill Niblock trabalhou com SunRa. O filme The Magic Sun  (SunRa) foi rodado em 1968, no ambiente  artístico alternativo de Nova Iorque. Através da gravação de um grande plano do músico e do instrumento, Niblock conseguiu transformar este filme de 17 minutos, também pela intensidade das imagens e do som, num clássico do cinema underground.

Por coincidência temporal, teve lugar em Agosto de 1969 um acontecimento de que Ernesto de Sousa foi o principal dinamizador, “O Encontro do Guincho”, que designou por “encontro como arte” (“meeting as art”). O ponto de partida foi um projecto de Noronha da Costa para um filme. Do programa constava a destruição a tiro de um objecto deste artista. Colaboraram nesta acção, além dos dois citados artistas, os alunos do Curso de Formação Artística. Estiveram ainda presentes Melo e Castro, Maria Alberta Menéres, Carlos Calvet, Fernando Pernes, Ana Hatherly, Artur Rosa, Helena Almeida, Jorge Peixinho, Clotilde Rosa e António Pedro Vasconcelos, entre outros.

Deste “happening” resultaram diversos registos fílmicos, um deles de Carlos Calvet. Os que esta sessão dará a ver são da autoria de Manuel Torres e de Joaquim Barata que termina com o filme de Manuel Torres, Convívio no Carrascal, 1967, Alunos e professores do Curso de Formação Artística (CFA) da SNBA, 1967, 5’ que reflecte o espírito de interacção entre alunos e professores do CFA, entre os quais se encontram, José-Augusto França, Manuel Taínha, Adriano de Gusmão, Ernesto de Sousa, Sena da Silva, Blanc de Portugal, Santos Simões, Fernando Conduto, Sá Nogueira.   

Programa:

_ PHILL NIBLOCK  (EUA) //  The Magic Sun, 1966, 17’

Em 1968, o realizador e compositor minimalista Phill Niblock filmou Sun Ra Arkestra a actuar no telhado dum edifício em Nova Iorque. Capturando extremos close-ups (dedos a tocar nas teclas, lábios a sobrar ar e címbalos a vibrar rapidamente) em alto contrate da película a preto e branco, Niblock concebeu uma montagem impressionante de 17 minutos que se tornou um clássico do cinema underground. O ritmo cinético do The Magic Sun combina perfeitamente com o som amorfo e movimento livre do Arkestra. Enquanto as imagens de Niblock voam, parecem fundir-se e enevoar-se, tanto como as curvas fluídas do Arkestra se sobrepõem e constroem em nuvens intangíveis de energia.

_JOAQUIM BARATA (PT) // Encontro do Guincho, 1969, organizado por Ernesto de Sousa, 1969, 5’

“(…) Na prática e de uma maneira deliberada e progressivamente mais consciente procuramos destruir a diferença entre a crítica e a operação estética, pelo menos no sector das “artes”, até aqui mais ou menos discretas. A informação discussão dos novos meios operatórios do processo estético moderno (valência do conceptual sobre o objetual, do projeto sobre o objeto) tomam aquela confluência mais urgente e útil. Um certo número de operações que vamos identificando com o nosso próprio projeto criativo são exemplo disso e doutras confluências (passado futuro, o mesmo e o outro, etc.). Nomearei o encontro como arte (meeting as art) e o passado como arte (past as art). A primeira destas operações começou em 1969, num Encontro no Guincho.”

Ernesto de Sousa, in “Abril”, Revista de Reflexão Socialista, 9/11/1978

_ MANUEL TORRES (PT) // Encontro do Guincho, 1969, organizado por Ernesto de Sousa, 1969, 5’

_ MANUEL TORRES (PT) // Convívio no Carrascal, 1967, Alunos e professores do curso de Formação Artística da SNBA, 1967, 5’

_ ERNESTO DE SOUSA (PT) // Nós Não Estamos Algures, 1969, 8'04’’

Documentação sobre o  Exercício de Poesia Comunicação  realizado no Teatro Primeiro Acto em Algés,  com a presença de Almada Negreiros. Música de Jorge Peixinho.

_ PHILL NIBLOCK 

Compositor minimalista Americano, Phill Niblock tem sido ativo nos seus projetos multimédia desde os meados da década de 60. Os seus espetáculos habitualmente incorporam filmagens (geralmente longos takes de pessoas não Ocidentais a trabalhar), ou outros elementos visuais como slides, vídeo, e fotografia, apresentando, muitas vezes, mais que um destes simultaneamente com a sua música. A sua música é caracterizada por múltiplos tons soando simultaneamente durante longos trechos, criando um som muito denso, aparentemente estático. Niblock tem relativamente poucas gravações, mas alguns argumentam que a sua música é tão inseparável de qualquer que seja o espaço físico em que é apresentada, que as gravações lhe não fazem justiça. De qualquer forma, ele começou a fazer a curadoria de uma serie de CDs da Experimental Intermedia Foundation, juntamente com David Behrman e Lois V. Vierk, para contrariar esta situação não só para si, como para outros compositores modernos. Ele envolveu-se na EIF desde o final dos anos 60, tornou-se produtor das suas apresentações no início dos anos 70, e diretor da organização em 1985. Desde que se tornou o diretor da organização, os seus espetáculos visitaram um grande número de espaços e museus de arte na América do Norte e Europa, incluindo o MoMA, London's Institute of Contemporary Art, e Palais des Beaux Arts em Bruxelas. Recebeu numerosas doações de organizações incluindo a NEA e a Guggenheim Foundation, e lecionou na City University of New York a partir de 1971.

 

 

_ ERNESTO DE SOUSA

(1921-88) Nasceu em 18 de Abril de 1921, em Lisboa. Seguiu o curso de físico-químicas na Faculdade de Ciências de Lisboa e dedicou-se, desde muito jovem, ao estudo da arte e da fotografia.
Espírito aberto, polémico, pioneiro em muitas das coisas a que se dedicou, exerceu uma vasta ação no campo artístico: artes visuais, cinema, teatro, jornalismo, rádio, crítica e ensaísmo.
Fez estudos de etnologia e estética, foi artista, comissário de exposições, professor.
Escreveu vários livros e textos dispersos em jornais e revistas, interessando-se particularmente pelo mixed-media e pela arte vídeo experimental.
A sua produção fotográfica, com início nos anos 40, inclui levantamentos etnográficos, de escultura medieval, de arte popular, retratos urbanos, etc. Entre os inéditos que fazem parte do seu espólio, contam-se numerosas montagens de fotografias que E.S. “paginava” com reenquadramentos e cortes, segundo um modelo que não era meramente gráfico ou cinematográfico mas antes se aproximava de posteriores sequenciações conceptuais.
Nos anos quarenta dedicou-se à divulgação e ao estudo do cinema desenvolvendo uma intensa atividade cineclubística, que teve significativa influência na formação ideológica e cultural de várias gerações e fundando, em 1947, o Círculo de Cinema, primeiro cineclube português. Em 1948, a sede do Círculo foi assaltada pela PIDE-DGS, que prendeu E.S. e os restantes membros da Direção. Esta foi a primeira de quatro prisões por motivos político-culturais. O carácter cultural e cívico desenvolvido por Ernesto de Sousa nesta área estendeu-se a todo o País e foi completado pela revista Plano Focal, onde publicou uma entrevista com 
Man Ray (1953), e pela revista Imagem-2ª Série, (1956-61), de que foi redator principal, lutando pelo “cinema novo” em Portugal, e onde entrevistou Bernard Dort, e Chris Marker, entre outros.
Cofundador, com Fernando Lopes Graça e outros, do Coro da Academia de Amadores de Música, em 1950.

Entre 1949 e 1952 viveu em Paris onde frequentou cursos de cinema da Cinemateca, da Sorbonne e do Institut de Hautes Études Cinematographiques, aulas de arte na École du Louvre e fez o Cours d’Initiation aux Arts Plastiques de Jean d’Yvoire, com quem manteve relações de amizade. Foi membro do Cineclube do Quartier Latin, onde travou conhecimento com René Bazin e François Truffaut. Estagiou em Marly-le-Roy, onde privou com Alain Resnais, Agnès Varda, com Jean Michel, Presidente da Federação dos Cineclubes Franceses e Jean Delmas.
Iniciou a sua participação como crítico e teórico do neo-realismo artístico e literário dos anos 40, por entender ser esse o local propício ao magistério da arte como instrumento de libertação social e individual. Em consequência, esteve sempre em violenta divergência com os seus contemporâneos surrealistas.

De 1958 a 1962, realizou o filme Dom Roberto, uma viragem no cinema português, ponto de partida para o chamado “cinema novo”. Apresentado no Festival de Cannes 1963, foi galardoado com os prémios Prémios da Jovem Crítica (”La Jeune Critique)” e de “L’ Association du Cinéma pour la Jeunesse”.
Participou em estágios e congressos internacionais para o estudo da comunicação e da pedagogia, através dos meios audiovisuais.

Entre 1966-69 lecionou no Curso de Formação Artística da Sociedade Nacional de Belas Artes as disciplinas Técnicas da Comunicação e Estética do Teatro e do Cinema. Durante este período criou a Oficina Experimental para desenvolvimento de projetos coletivos, de “criação permanente”.

Em 1969 participou no 1º Festival 11 giorni di arte collectiva a Pejo (Itália), onde conheceu Bruno Munari, Sarenco, Verdi, entre outros, e a partir daquela data passou a autodenominar-se “operador estético”.
No mesmo ano, o mixed-media 
Nós não estamos algures, merece especial destaque. Jorge Peixinho foi seu amigo e autor da música para encenações teatrais e obras mixed-media.

Ao longo da sua vida Almada Negreiros foi para Ernesto de Sousa uma referência permanente. A sua obra e personalidade foram ponto de partida para artigos, livros, e o mixed-media Almada, Um Nome de Guerra. Recuperou os painéis deste artista do Cine San Carlos em Madrid, que conseguiu transportar para Portugal numa importante operação no âmbito da defesa do património.
Em meados dos anos 60 entrou em contacto com o movimento Fluxus: entrevistou Ben Vaultier e foi amigo de 
Robert Filliou, e deWolf Vostell. A partir de 1976, foi visita frequente do Museu Vostell, em Malpartida de Cáceres (MVM). Esta relação com Vostell permitiu o alargamento do seu projecto MVM à participação de muitos artistas portugueses.
Nos anos 60 a 80, divulgou a arte vídeo, o happening, a performance em cursos, artigos e conferências que contribuíram para abrir caminhos à arte portuguesa, entre as quais, Arte portuguesa atual, na Ecole Supérieure d’Arts Visuels, em Genebra, a convite de Chérif Défraoui. Apresenta, em 1976, o Ciclo sobre arte vídeo, no Instituto Alemão de Lisboa, em colaboração com a Videoteca do Neuer Berliner Kunstverein. A convite de Dulce d’Agro, introduz o ciclo Performing Arts, na Galeria Quadrum, em que se exibe vasta documentação visual sobre happenings, envolvimentos, performances, events, video e nova fotografia, em colaboração com Gina Pane, Ulrike Rosenbach e Dany Block, entre outros.

Foi convidado pelo Movimento das Forças Armadas (MFA) a integrar a Comissão consultiva para a cultura, poucos dias após o 25 de Abril 1974, em que também participavam Sophia de Mello Breyner, Natália Correia, e outros intelectuais.
Organizou, em 1977, a exposição Alternativa Zero, que integrou os mais importantes artistas portugueses e ainda o Living Theatre.
Participou ativamente nas correntes de mail art. Foi sócio fundador da Galeria Diferença (1978), membro da AICA e do 
IKG (Internationales Künstler Gremium).

As casas da Rinchoa (1967-1971) e de Janas (1971-) tornaram-se, muito de acordo com o espírito dos anos 60, locais de encontro de efervescência criativa e interdisciplinar. Por ali passaram portugueses e estrangeiros, nas mais diversas situações.

Em 1987 a SEC, por iniciativa de Teresa Gouveia, ex-Secretária de Estado da Cultura, organizou a exposição retrospetiva Itinerários.

A Fundação Calouste Gulbenkian-Centro de Arte Moderna dedicou-lhe a exposição Revolution My Body, em 1998, comissariada por Helena de Freitas e Miguel Wandschneider.

 

 








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