As Ondinas (Heine)

, 1908

Adriano Sousa Lopes

Óleo sobre tela

162 × 274 cm
assinado e datado
Inv. 30
Historial
Prova final do 4º ano de pensionista do Legado Valmor, em Paris, em 1908. Integrado no MNAC em 1911.

Exposições
Lisboa, 1909; Lisboa, 1913, 30; Lisboa, 1917, 45; Lisboa, 1962, 7, p.b.; Lisboa, 1980, 1, cor.

Bibliografia
O Século, 1908; O Occidente, 1909, 18; PAMLONA, 1944; MACEDO, 1953, 14; PAMPLONA, 1954, vol. IV; Um século de pintura e escultura portuguesas, 1965, 53, p.b.; FRANÇA, 1980; “O Pintor Sousa Lopes”, 1980; JORGE, 1984, 227 – 228; SILVEIRA, 1994, 104, cor; PEREIRA, 1995; “Romantismo e pré-naturalismo”, 1995, 349; RODRIGUES, 2000, 198.
Prova de pensionista do último ano em Paris, esta obra de Sousa Lopes inspira-se num poema com a mesma temática de Heinrich Heine (romântico alemão), traduzido por Gonçalves Crespo. A sua criação plástica manifesta uma estética simbolista, via pompier, destacando a narrativa e a imagética fantástica de seres ou espíritos elementares da água num espaço imaginário. A composição estrutura-se em duas linhas perpendiculares constituídas pelo cavaleiro e uma ondina. O confronto destas personagens sugere jogos de nu feminino/cavaleiro armado, simbolismo/naturalismo, explorados anteriormente por diversos artistas ou pelo seu mestre, Veloso Salgado (Amor e Psyché). A marmórea Ondina (o sonho) opõe-se a uma carnalidade naturalista e aos reflexos da armadura do cavaleiro (a realidade). Puvis de Chavannes surge como referente evidente, não só pelas dimensões da pintura, mas pelo estatismo figurativo na imagem da Ondina e do compromisso entre tonalidades terrosas que se complementarizam (castanhos e azuis). No entanto, a maior diversidade de colorido em ocres, brancos, negro e azuis fortes ou do tratamento plástico de figuras e fundos potenciam-lhe uma mestria técnica e uma via própria de exploração simbólica. Respeitando a individualidade das personagens, ilustra narrativamente a cena, muito próxima do poema de um cavaleiro que “lânguido goza carícias divinas/ À luz do luar...” (Heinrich Heine, As Ondinas in Gonçalves Crespo, Nocturno). Oscilando entre uma aprendizagem naturalista, influências impressionistas, simbólicas ou pompiers, o autor parece querer esboçar ou explorar as suas próprias possibilidades artísticas.

Maria Aires SIlveira